sábado, 7 de julho de 2007

Simbolismo - Na França, em Portugal e no Brasil

por Robson Melo, Jacirene Souza e Graça Damasceno*

1 Introdução


“Nomear um objeto é suprimir três quartos do prazer do poema, que consiste em ir adivinhando pouco a pouco: sugerir, eis o sonho; é a perfeita utilização desse mistério que constitui o símbolo: evocar pouco a pouco um objeto para mostrar um estado de alma, ou inversamente, escolher um objeto e extrair dele um estado de alma, através de uma série de adivinhas”.
(Stéphane Mallarmé, poeta simbolista francês)

O simbolismo floresceu, na Europa, nos anos 80 e 90 do século passado. Na mesma em que os pintores impressionistas iniciavam a diluição dos contornos dos objetos nos jogos de luz, os poetas simbolistas renunciavam à tradução da forma fixa do objeto em favor do ritmo do dever, da fugacidade do momento. Buscavam a expressão de alma que escapa a uma forma definida e não é abordada por um caminho direto.

2 Na França: Berço do Simbolismo

Nas últimas duas décadas do século XIX, a ciência, até há pouco, “dona da verdade”, passou a ser questionada. Os intelectuais experimentavam um forte desencanto, pois a ciência, que a tudo enquadrava em uma forçada relação de “causa-efeito”, mostrava-se impotente, deixando intocadas as grandes questões da vida, que continuavam um profundo mistério. É exatamente esse mistério que seduziu os filósofos e artistas da época, na busca, muitas vezes, de uma explicação para as manifestações do nosso mundo interior. Nesse mesmo período o continente europeu vive uma grande depressão, fase de intranqüilidade, na burguesia, quanto aos rumos da economia que começa a estagnar-se depois de um triunfal progresso.
Desprezando a ciência e a técnica como componentes desse mundo burguês, surge, na França, a estética simbolista, valorizando a intuição pessoal e a liberdade imaginativa como forma de conhecimento. É a reação à impassibilidade e à rigidez das fórmulas parnasianas e, secundariamente, à crueza do romance naturalista. No plano social e filosófico, constitui uma réplica ao positivismo científico-mecanicista e ao realismo, objetivo que dominou a segunda metade do século XIX. Também foi chamado Simbolismo o movimento surgido à mesma época na pintura, como reação ao impressionismo e ao naturalismo.
O momento precursor da nova estética literária foi com a publicação de As flores do mal, livro do poeta francês Charles Baudelaire, em 1857. Sua influência foi de fundamental importância pela transformação da vida na grande cidade em tema literário e pelo rompimento dos limites morais impostos aos artistas. Coube a Baudelaire a divulgação de uma mensagem que desvendava as angústias do homem desacreditado dos deuses e mitos, o que resultava em um comportamento movido por impulsos de uma trágica liberdade e pelo individualismo.
Ao lado de Baudelaire estão Arthur Rimbaud, Paul Verlaine e Stephane Mallarmé, paradigmas do Simbolismo. A partir desses poetas, a poesia ocidental vive em que a objetividade dos realistas, a impassibilidade e o tom escultural dos parnasianos cedem ligar à evocação sugestiva e musical. Em lugar da exatidão, o vago. A palavra sofre um esvaziamento de seu conteúdo, valendo pela sugestão verbal. Essa experiência é anterior ao próprio Baudelaire: a queda da correspondência com o natural, na poesia, começa com Edgar Allan Poe, como se pode observar no seu conhecido poema “O corvo”.
O núcleo do Simbolismo francês residiu, sem dúvida, na obra de Stephane Mallarmé, consumado artista do verso, cujas potencialidades rítmicas e musicais explorou a exaustão. Deu início também ao hermetismo, a poesia pura da chamada “torre de marfim”, em torno da qual se reuniam os evasionistas e os experimentalistas do verso e verbo.
O símbolo para esta nova arte poética, o Simbolismo, desprende-se de qualquer carga lógica. Uma das singularidades desta poesia seria sua conexão com a música, justamente porque ela concentra a capacidade de sugerir as mais variadas emoções. Criou-se, portanto, uma língua-música que consistiria na harmonização dessas duas formas de arte.
As manifestações dos poetas contrários ao Realismo-Naturalismo e ao Parnasianismo foram denominadas “decadismo” ou “decadentismo”. Esse nome traduz claramente a noção básica que os orientava: a de que a civilização burguesa chegara a tal ponto de decadência, de dissolução moral e espiritual, que a vida se transformara num grande mal-estar, suportável apenas pelos gozos sensuais e pela fruição dos prazeres mais forte. “A sociedade se desagrega sob ação corrosiva de uma civilização deliqüescente. O homem moderno é um insensível.” – afirma o Manifesto decadente.

2.1 O significado e definição de Símbolo

Para o poeta simbolista, a importância do símbolo residirá no fato de que ele será o elo entre a realidade física e a sensorial. Isso é importante porque o simbolista não estará preocupado em descrever a realidade, mas em senti-la, em sugeri-la, em idealizá-la. É aí que o símbolo, com toda a sua riqueza sugestiva, pode funcionar como mediador entre a realidade material e a realidade onírica do poeta, uma realidade individualista, vaga, misteriosa. O símbolo, nesse aspecto, será um reflexo das meditações filosóficas, espirituais, abstração inerentes ao caráter intimista do poeta. É a forma como ele vê e concebe a realidade: buscando sua face mística, encantadora, surreal. É com o símbolo que o poeta pode mostrar sua visão de mundo, despertar em seus interlocutores as sensações mágicas que abstrai da realidade. É através do símbolo que o poeta pode condensar duas realidades: o mundo real e o mundo dos sonhos. Ao construir o seu poema, o simbolista poderá abordar vários temas todos inter-relacionados, mas é através do símbolo que conseguirá resolver como homem e como artista.

3 O Simbolismo em Portugal (1890-1915)

A poesia simbolista tem relação com a recuperação de alguns valores não-materiais após a década de 1870.
Em Portugal registrou-se pelo menos um grande momento de crise econômica nos anos de 90 e 91, assinalado pelo descrédito do povo em relação à Monarquia. È nessa conjuntura que surge o grupo de escritores conhecido como “Os Vencidos da Vida”, denominação reveladora do espírito depressivo que se viveu na época. Desse grupo de curta duração, faziam parte escritores realistas, como Eça de Queirós e Guerra Junqueiro.
Este período apresenta algumas particularidades. Além da poesia ligada às características gerais do movimento, há correntes voltadas para as tradições históricas e culturais do país, responsável por um forte sentido nacionalista, concentrado, principalmente, no repúdio à Inglaterra e na valorização do passado navegador e imperial português. Daí a Literatura adotar formas e temas tradicionais:
O NEOGARRETISMO pregava a retomada da orientação poética de Almeida Garrett, com a valorização da tradição poética popular e a coloquialização da linguagem poética;
O SAUDOSISMO procurava definir o caráter nacional do homem português tomando como sua essência o sentimento da saudade.

3.1 Principais representantes do Simbolismo em Portugal

Eugênio de Castro e Almeida
Antonio Nobre



3.1.1 Eugênio de Castro

Eugênio de Castro e Almeida nasceu em Coimbra, em 1869. Formado em Letras, ingressou na carreira diplomática, mas logo desistiu dela e passou a exercer o magistério. Viveu algum tempo em Paris, onde entrou em contato com o simbolismo francês. De volta a Portugal, dirigiu o grupo de revista Os Insubmissos. Morreu em 1944, no auge da fama.
Para a estética simbolista, a importância de Eugênio reside na polêmica que causou ao publicar “Oaristos”, obra que inaugurou o Simbolismo português. O escândalo causado pela audácia formal desse livro permitiu a divulgação da nova estética e a consagração de seu autor como o principal difusor do movimento em Portugal.
O texto, a seguir, é parte de um longo poema extraído do livro que deu início ao Simbolismo português, “Oaristos”.

Um sonho

Na messe, que enlourece, estremece a quermesse...
O Sol, o celestial girassol, esmorece...
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,

Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Flor! enquanto na messe estremece a quermesse
E o Sol, o celestial girassol, esmorece,
Deixemos estes sons tam serenos e amenos,
Fujamos, Flor ! à flor destes floridos fenos...

Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...



3.1.2 Antônio Nobre

Nasceu no Porto, em 1867. Após duas reprovações sucessivas no curso de Direito em Coimbra, mudou-se para Paris, onde freqüentou cursos livres. Ingressou na carreira diplomática ao voltar para Portugal, mas já com os sinais da tuberculose que o mataria em 1900.
Apresenta em sua poesia a memória como forma de escape ou fuga de um presente de infelicidade e inadaptação. Linguagem coloquial e musicalidade obtidas, principalmente, pela exploração de recursos presentes na poesia popular são as características formais mais evidentes de Nobre, que em sua ida para a França sofreu influência do Simbolismo transportando para suas obras, sob a inspiração de Paul Verlaine. Publicou em vida o volume “Só” (1892), motivo de sua celebridade, postumamente surgiram Despedidas e Primeiros Versos, além de vários volumes de Correspondência.

Menino e moço

Tombou da haste a flor da minha infância alada.
Murchou na jarra de oiro o púdico jasmim:
Voou aos altos Céus a pomba enamorada
Que dantes estendia as asas sobre mim.

Julguei que fosse eterna a luz dessa alvorada,
E que era sempre dia, e nunca tinha fim
Essa visão de luar que vivia encantada,
Num castelo com torres de marfim !

Mas, hoje, as pombas de oiro, as aves da minha infância,
Que me enchiam de Lua o coração, outrora,
Partiram e no Céu evolam-se, a distância !

Debalde clamo e choro, erguendo aos céus meus ais:
Voltam na asa do Vento os ais que a alma chora,
Elas, porém, Senhor ! elas não voltam mais...
(Só, Antonio Nobre)

Considera-se que o Simbolismo em Portugal, assim como no Brasil, tenha sido uma estética importada da França; argumenta-se que os países mais afastados da luta imediata pelos mercados consumidores ou fornecedores de matéria-prima, não sentindo na própria pele a aproximação de um grande conflito, não apresentavam o clima ideal para o desenvolvimento dessa escola. Verdade é que Portugal vive, pelo menos a luta imperialista na África: 1890 é o ano do Ultimato Inglês, que mergulhou a sociedade portuguesa num clima de frustração e pessimismo. É essa situação que vem alimentar o saudosismo nacionalista e uma mentalidade colonialista.

4 O Simbolismo no Brasil (1893)

No Brasil, o primeiro manifesto simbolista foi publicado em 1891, no jornal Folha Popular, que passa a publicar artigos e textos de poetas como Emiliano Perneta (1866-1921) e Cruz e Sousa. Este lança, em 1893, as obras “Missal” (na prosa) e “Broqueis” (na poesia), em que aborda mistérios da vida e da morte com uma linguagem rica, marcada pela musicalidade, iniciando, assim, o movimento simbolista no Brasil.
Foi um movimento que quase passou despercebido, pois foi sufocado pelo Parnasianismo que ainda vigorava com muito prestígio. Em se tratando da relação Parnasianismo x Simbolismo, nota-se que um estilo é a negação do outro porque ambos são resultados de visões de mundo antagônicas, contraditórias. Enquanto o simbolista mergulha no seu mundo interior, buscando sua essência, o parnasianismo irá voltar-se unicamente para o exterior, ou melhor, para a descrição desse mundo exterior, o que nem sempre logra conseguir, acabando, em alguns casos, por trair seu próprio receituário.

4.1 Características do Simbolismo

A poesia simbolista irá se voltar para o interior, buscando, através de uma linguagem enigmática, colorida e vibrante, sugerir simbolicamente as angústias do homem. Pelo seu aspecto enigmático, místico (até religioso) não estará preocupada com a descrição do mundo e sim com a sugestão de realidades (materiais ou abstratas) que compõem esse mundo. Para o simbolista a ciência não é tão determinante assim, dada a sua impotência ante as coisas materiais que estão além dos olhos. É uma poesia que não está preocupada em ser vista, mas em ser sentida. Para tanto, os poetas simbolistas irão valer-se dos símbolos (assim como os parnasianos se valeram da forma) para conseguir esse efeito em seus interlocutores, símbolos que representem coisas, seres, sensações, idéias e até filosofias. Irão valer-se também da linguagem para ampliar seus meios de sintonia com o leitor. É comum que seus versos sejam vibrantes, musicalizados, valorizando o aspecto rítmico e a riqueza proporcionada pela pontuação.
A musicalidade, traço de destaque na poesia simbolista, é um efeito criado a partir do uso das figuras de som ou de harmonia. No texto elas produzem efeitos de ritmo, cadência, constituindo o “fundo orquestral” de todo poema. O Simbolismo adotou a metáfora como uma importante estratégia da linguagem para se alcançar o insondável, o nebuloso, o místico. Ela é concebida como a célula germinal da poesia e responsável pela riqueza das imagens de um poema simbolista.

4.1.2 Principais características do Simbolismo – Em resumo


Sugestão
Musicalidade
Sinestesia
Aliteração e assonância
Misticismo
Nebulosidade
Hermetismo
Conhecimento ilógico e intuitivo
Sonho, fantasia
Busca da essência
Subjetivismo
Cromatismo (valorização das cores)


4.2 Principais representantes do Simbolismo no Brasil

Cruz e Sousa
Alphonsus de Guimaraens


4.2.1 Cruz e Sousa

João da Cruz e Sousa nasceu em Florianópolis (SC) em 1861. filho de escravos alforriados e protegido dos antigos proprietários de seus pais, recebeu uma educação escolar primorosa.
Depois de um curto período no Rio Grande do Sul, chegou ao Rio de Janeiro, onde se fixaria para sempre. Foi lá que começou no jornalismo e na vida literária. Conheceu Gavita, com quem se casaria. A mulher enlouqueceu em 1896, sendo cuidada pelo próprio poeta, em casa. Vários poemas de Cruz e Sousa tematizam a loucura.
Quando morreu, de tuberculose, tinha 37 anos (1898) e era funcionário da estrada de ferro Central do Brasil.
A obra de Cruz e Sousa, afora alguns inéditos de importância mínima, se compreendia nos seguintes volumes: “Missal” e “Broqueis”, publicados em 1893, únicos livros aparecidos ainda em vida do poeta; depois de sua morte, por diligência de amigos, principalmente de Nestor Victor, vieram a lume: “Evocações”, prosa, em 1898; “Faróis”, poemas, em 1900; “Últimos sonetos”, em 1905.
O poema Antífona é o que abre o livro “Broqueis” e equivale a uma “profissão-de-fé”, a um manifesto da estética simbolista. Quase todas as características do Simbolismo estão presentes nele:


Antífona

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
de luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...

Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
e dolências de lírios e de rosas...

Indefiníveis músicas supremas,
harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,
surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
sutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Infinitos espíritos dispersos,
inefáveis, edênicos, aéreos,
fecundai o Mistério destes versos
com a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidades
que fujam, que na Estrofe se levantem
e as emoções, todas as castidades
da alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astros
fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
sonoramente, luminosamente.

Forças originais, essência, graça
de carnes de mulher, delicadeza...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
do Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões álacres,
desejos, vibrações, ânsias, alentos,
fulvas vitórias, triunfamentos acres,
os mais estranhos estremecimentos...

Flores negras do tédio e flores vagas
de amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
em sangue, aberta, escorrendo em rios...

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
nos turbilhões quiméricos do Sonho,
passe, cantando, ante o perfil medonho
e o tropel cabalístico da Morte...


Siderações

Para as Estrelas de cristais gelados
as ânsias e os desejos vão subindo,
galgando azuis e siderais noivados,
de nuvens brancas e amplidão vestindo...

Num cortejo de cânticos alados
os arcanjos, as cítaras ferindo,
passam, das vestes nos troféus prateados,
as asas de ouro finamente abrindo...

Dos etéreos turíbulos de neve
claro incenso aromal, límpido e leve,
ondas nevoentas de Visões levanta...

E as ânsias e os desejos infinitos
vão com os arcanjos formulando ritos
de Eternidades que nos Astros canta...


Acrobata da dor


Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta...

Pedem-te bis e um bis não se despreza!
vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d’aço...

e embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.

4.2.2 Alphonsus de Guimaraens

Nasceu em Ouro Preto (MG). Seu nome verdadeiro: Afonso Henriques da Costa Guimarães. Ingressou na escola de minas, com o objetivo de estudar engenharia. Nessa época, morreu-lhe a noiva – Constança, filha de Bernardo Guimarães - perda de que o poeta parece nunca ter-se recuperado.
Veio para São Paulo, onde iniciou o curso de Direito que concluiria em Minas. Em 1906 foi nomeado juiz na cidade de Mariana (MG). Lá casou, teve quinze filhos, e permaneceu até sua morte, em 1921.
A obra de Alphonsus de Guimaraens recupera muitos temas característicos do Romantismo, como o amor espiritualizado, a evasão, a religiosidade e a morte. Amor e morte, em resumo, são os dois pólos de sua preocupação como escritor. em sua poesia não há, como na de Cruz e Sousa, lugar para o erotismo – a mulher é divinizada, comparada à Virgem Maria.
A morte da noiva é um motivo recorrente em sua poesia como no fragmento:

XXIV
“Mortos os beijos nossos
Como eu me sinto só...
Ah! cobre a cinza fria dos teus ossos
Um chão de cinza e pó.

Anjo da minha guarda,
De novo ao mundo vem!
que céu tão triste, de uma cor tão parda...
É cinza e pó também.”
Dona Mística, Alphonsus de Guimaraens

Lirismo Místico:

VII
Primeira Dor
Em teu louvor, Senhora, estes meus versos,
e a minha Alma aos teus pés para cantar-te.
E os meus olhos mortais, em dor imersos,
Para seguir-te o vulto em toda a parte.

Tu que habitas os brancos universos,
Envolve-me de luz para adorar-te,
Pois evitando os corações perversos
Todo o meu ser para o teu seio parte.

Que é necessário para que eu resuma
As Sete Dores dos teus olhos calmos?
Fé, Esperança, Caridade, em suma.

Que chegue em breve o passo derradeiro:
Oh! dá-me para o corpo os Sete Palmos,
Para a Alma, que não morre, o Céu inteiro!

Setenário das Dores de Nossa Senhora, Alphonsus de Guimaraens





Poesia Noturna:


Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

Diferente de Cruz e Sousa, que se caracteriza por uma fúria verbal e por suas enumerações católicas, a “noturnidade” para Alphonsus de Guimaraens não é trágica, abismal; ao contrário, significa e contém paz, comunicabilidade celestial e nostalgia. Como poeta essencialmente lírico, contribuiu para desmistificar o abuso do tom declamatório e do floreado estilístico que encontramos na poesia parnasiana.

5 Considerações finais

Os simbolistas ficaram caracterizados pela excentricidade, muitas vezes afetada, para acentuar sua distinção do vulgo, voltado ao que é material e imediato. Ao poeta estava reservado o espiritual, o místico e o não-consciente.
Em síntese, o poeta simbolista caracteriza-se pela concepção mística do mundo; pelo interesse no particular e no individual, em ligar do geral que interessava aos realistas e parnasianos; pelo escapismo em que se aliena da sociedade contemporânea; pelo conhecimento ilógico e intuitivo; pela valorização da arte pela arte; pela utilização de via associativa.

_______________
*Graduandos do Curso de Letras na Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança

Referências Bibliográficas

FARACO & MOURA. Língua e literatura: 3ª ed. 2º grau. São Paulo: Ática, 2000.
INFANTE, Ulisses. Curso de literatura de língua portuguesa: volume único: Scipione, 2001.
NICOLA, José de. Língua, literatura e redação: vol.2. São Paulo: Scipione, 1993.
ORNELA, Paulo. “Literatura Brasileira” In: Caderno de atividades – Sistema de Ensino Universo: Belém, 2003.
Sistema de Ensino Positivo. Língua Portuguesa / Literatura: Ensino Médio. Curitiba: COPYRIGHT 2001.

Fontes Eletrônicas

http://faroldasletras.no.sapo.pt/simbolismo.htm
http://orbita.starmedia.com/~stargate2/simboli.htm

http://www.artesbr.hpg.ig.com.br/Educacao/11/interna_hpg9.html

robsonh_melo@yahoo.com.br

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Análise do Poema "Pós Tudo" de Augusto de Campos


por Robson Melo e Luciana Anselmo*

O poema “Pós-tudo”, de Augusto de Campos, é um poema visual que concentra na imagem toda a sua poeticidade e aborda a temática finissecular. Ele refere-se ao Pós-Modernismo em que, segundo Moriconi “nada mais de novo havia a fazer ou dizer, depois de um século inteiro de experimentações.” (p 97)
Com relação ao seu aspecto visual – o mais importante dentro desta poesia concretista - há o contraste do preto e do branco. Sabe-se que o preto é a ausência de todas as cores; o branco a presença de todas elas. O preto surge como pano de fundo no poema, sugerindo um vazio, ou até mesmo um esgotamento total ocasionado no século XX, é nesse vazio que o poema apresenta palavras em branco, sugerindo tudo o que já fora dito e experimentado no século XX, sugere ainda o tudo que é a palavra, sua força e representatividade, antes e pós tudo.
A disposição das palavras, também, nos revela muito, a primeira linha do poema apresenta uma única palavra, sugerindo um isolamento. Quando o autor começa, “quis mudar tudo”, ele refere-se ao início do movimento, por volta da década de 20, mais precisamente na Semana de Arte Moderna, em que a Literatura Brasileira aspirava uma identidade própria. Depois ele coloca “mudei tudo”, já referindo-se ao período dos anos 30 à 45 em que, de fato, essa identidade se consolidara e a produção literária no Brasil assumia um caráter genuinamente nacional, desvinculando-se do que se vinha fazendo anteriormente, onde os artistas utilizavam-se dos moldes e tendências européias. O mesmo ocorre com a última linha do poema, as palavras se referem ao “eu”, eu quis, eu mudo (transformar), é o poder de transformação da voz poética. A palavra “mudo” também pode fazer referência ao estado de mudez, de silêncio provocado pelos excessos do final do século, como se fosse uma afonia ocasionada pelos gritos.
A primeira palavra está situada no final da linha e a última palavra do poema está situada no início, um contraste interessante que faz com que o poema comece no final (da linha) e termine como se fosse começar, representando o que foi as duas últimas décadas do século XX, final de tudo (conturbado), e começo silencioso (adormecido).
A fonte da letra do poema causa um efeito bastante significante, insinua uma seqüência cíclica, principalmente se considerarmos as letras D, Q e O, ou ainda, seqüências que direcionam a um mesmo ponto como o X; as demais representam uma seqüência, constante e intensa, efeito causado pela espessura da fonte e por estar em caixa alta.
Uma outra seqüência interessante cabe à disposição das palavras no espaço do poema. A primeira linha, um isolamento, tudo se inicia com fatos isolados, seria a introdução; a segunda e a terceira linhas, o corpus em que tudo está em seu devido lugar, representam os limites, os extremos, os aspectos de definições de uma época, em que nada se mistura, as idéias que se divergem devem separar-se; na quarta linha há uma união de palavras, simbolizando o momento mais complexo da século XX, os excessos de experimentações, surgindo em contraposição às duas linhas anteriores, esta linha é o acumulo, aquelas são a separação; “Agora pós tudo”, aqui Augusto de Campos dirige-se à década de 80, período no qual não havia mais alguma característica inovadora, quando se trata de Literatura no Brasil, a idéia que se passa é de que “a fonte secou”, não existe um movimento artístico-literário que marque esse período. Na quinta linha , um neologismo criando por dois elementos, “ex” que é aquilo que não é mais somado com a palavra “tudo”. O poeta escreve “extudo”, que pode ser interpretado, à priori, de duas maneiras: a primeira “ex-tudo”, dando essa idéia de passado, a produção literária acabou, não há nada de novo, “tudo” ficou para trás; o emblemático do “nada”, revelando a inovação para tudo que já fora feito. Se formos pela fonética, temos “estudo”, dando a idéia de que agora só resta estudar a literatura, esses movimentos, analisá-los tomar ciência de suas importâncias.
Na sexta linha, uma seqüência da anterior, o mudo de mudez, “Mudo” como se a Literatura agora estivesse calada, tanto tempo teve caráter revolucionário, voz ativa e agora está estática, calada, completamente muda. A ausência de palavras, que pode, também se referir ao poder de transformação do “eu”, “eu mudo”, mostrando firmeza e tenacidade. As palavras e as letras surgem como caminhos que conduzem o texto e mostram o seu conteúdo.
Quanto ao aspecto conteudístico do texto, há uma relação de querer mudar e mudar convictamente, relevando as diversas formações visadas por uma época, no século XX, assim como a própria poesia concreta vem romper com as formas de poemas já existentes, o que faz da poesia de Augusto de Campos uma metalinguagem da poesia concreta, pois aborda a ruptura ocasionada pela “quebra” de pensamento com relação à forma poética de tudo o que já fora utilizado.

_________________
*Graduandos do Curso de Letras da Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• MORICONI, Ítalo. Como e por que ler a poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p 27

• http://www2.uol.com.br/augustodecampos/home.htm

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Análise Crítica da Obra “Eurico: O Presbítero” de Alexandre Herculano

por Robson Melo, Graça Damasceno, Jacirene Souza, Josiane Sousa, Luciana Anselmo, Luciana Santos*


INTRODUÇÃO

O Romantismo chega a Portugal no momento em que o país vivia uma das suas mais graves crises sociais e políticas. Dividido entre o absolutismo de Dom Miguel e o liberalismo de Dom Pedro IV – Dom Pedro I no Brasil –, a nação portuguesa se viu envolvida numa violenta guerra civil entre os anos de 1832 e 1834. Os liberais – defensores de uma monarquia constitucional – representavam os interesses da burguesia capitalista emergente contra as detentoras dos bens feudais, representado por Dom Miguel. A revolução romântica alimenta-se, em Portugal, dessa revolução social e política. Os primeiros escritores românticos portugueses – Almeida Garret (1799-1854) e Alexandre Herculano (1810-1877) – participam ativamente da revolução liberal e, após sua vitória, em 1834, retornam do exílio para implantar em Portugal a nova literatura romântica. Este é considerado, diametralmente, oposto ao primeiro em todos os aspectos: personificação da sobriedade, do equilíbrio, do rigor crítico; espírito germânico, dir-se-ia, enquanto Garret é latino, sobretudo francês.

Alexandre Herculano foi o iniciador do romance histórico em Portugal. Seguiu o modelo de Walter Scott, romancista que fez reviver em dezenas de obras as velhas tradições do seu país e todo o pitoresco da vida medieval inglesa: ressuscitou gentis donzelas apaixonadas por cavaleiros, reconstruiu castelos imponentes, encheu de armas e sangueiras florestas misteriosas. Herculano soube relacionar a história com a imaginação sem que uma destruísse a outra. Os seus romances retratam épocas de particular interesse para a escola romântica, como o domínio árabe, a fundação da nacionalidade e a consolidação da sua independência no tempo de D. João I; são fidelíssimos em conservar a cor histórica e local dos acontecimentos narrados: exatidão de vestuário, de armas, de costumes, de interiores e exteriores, de leis, de arquitetura, etc...

Na obra Eurico, o Presbítero evidencia-se mais nítida ainda a estrutura a modo de tragédia. Ao contrário, o problema amoroso é que se torna incidental e marginal ao panorama histórico aberto pela retrospectiva de Herculano: serve mais de pretexto para a reconstituição histórica que de eixo da intriga novelesca.

HERCULANO, ROMANCISTA

Nos seus romances e narrativas históricas, Herculano deu expressão a múltiplas tendências e interesses que as poesias, as obras polêmicas e as obras históricas apenas parcialmente revelam. O romance histórico era aliás um gênero de limites indefinidos, em que se misturavam prosa poética, a erudição, os comentários filosófico, social e político, a descrição pitoresca, a pretexto de narração.

Nas suas narrativas históricas encontramos o sentimento da eternidade em contraste com o efêmero das vidas humanas. As ruínas assinalam a passagem do homem rolando no despenhadeiro dos tempos. Onde outrora ferveu o bulício da vida, há hoje desertos. São de origem religiosa certos temas característicos dos romances de Herculano. Em quase todos eles ocupam posição central o tema do sacrilégio, isto é, a violação de mandados divinos, que precipita os protagonistas na expiação cruciante. Eurico não consegue resignar-se espiritualmente ao celibato sacerdotal.

As principais personagens dos romances de Herculano são como que encarnações, dotadas de forças sobre-humanas, anjos ou diabos, consagrados a uma obra de maldição ou de santificação: é o caso de Eurico anjo negro no meio dos combates e de outras personagens dos seus romances. Esta polarização bem romântica entre os dois extremos do sagrado (o divino e o demoníaco) transparece também na adjetivação (solene, santo, maldito,) e em imagens tiradas do culto (lâmpada do santuário, anjo do Senhor, etc.).

Outra característica geral do seu romance é o gosto da reconstituição minuciosa de trajos, interiores, arquiteturas, cerimônias e festividades. Revela-se aqui um intenso sentimento do concreto exterior. Mas este gosto do concreto alterna com o dos cenários vagos e puramente imaginários, dominantes no romance Eurico, o Presbítero situado numa época sobre a qual Herculano dispunha de poucas informações.Há ainda outra o culto do cavaleiresco.

Herculano deixou assinalado na novelística o seu interesse pelos estudos históricos e toda uma concepção da história. Os seus diversos romances abarcam o conjunto da Idade Média portuguesa, a cuja investigação se consagrou especialmente. A evocação medieval dos romances de Herculano, como os de Garrett, insere-se na campanha literária romântica do regresso às “raízes nacionais”, fazendo tábua rasa da época clássica que era também, para os Românticos, a do absolutismo monárquico e da decadência nacional.

Note-se a intenção poética da prosa de Herculano, sobretudo no Eurico, deliberadamente concebido como um poema em prosa, quer pelo vocabulário afinado segundo o tom visionário, quer pelo fôlego versicular do ritmo, quer pelo sentido epopeico da própria imaginação plástica. Seria fácil reduzir a verso muitos parágrafos dos romances de Herculano.

RESUMO: “EURICO, O PRESBÍTERO”

O romance Eurico, o Presbítero, conta a triste história de amor entre Hermengarda e Eurico. A história se passa no início do século VIII na Espanha Visigótica. Eurico e Teodomiro são amigos e lutam juntos com Vitiza (imperador da Espanha) contra os “montanheses rebeldes e contra os francos, seus aliados”.

Depois desse bem sucedido combate, Eurico pede ao Duque de Fávila a mão de sua filha, Hermengarda, em casamento. No entanto, Fávila ao saber da intenção de Eurico e, sabendo ainda que esse era um homem de origem humilde, recusa o pedido de Eurico. Certo de que sua amada também o repelia, o jovem entrega-se ao sacerdócio, sendo ordenado como o presbítero de Carteia.

A vida de Eurico então resume-se às suas funções religiosas e à composição de poemas e hinos religiosos, tarefas essas que ocupavam sua mente, afastando-se das lembranças de Hermengarda. Essa rotina só é quebrada quando ele descobre que os árabes, liderados por Tarrique, invadem a Península Ibérica. Então Eurico toma para si a responsabilidade de combater o avanço árabe. Inicialmente, alerta seu amigo Teodomiro e, posteriormente, já adiante da invasão, o Presbítero de Cartéia transforma-se no enigmático Cavaleiro Negro.

Eurico, ou melhor, o Cavaleiro Negro luta de maneira heróica para defender o solo espanhol. Devido a seu ímpeto, ganha a admiração dos Godos e lhes dá força para combater os invasores. Quando o domínio da batalha parece inclinar-se para os Godos, Sisibuto e Ebas, os filhos do Imperador Vitiza, traem o povo Godo com a intenção de assumir o trono. Assim o domínio do combate volta a ser árabe. Logo em seguida Roderico, rei do Godos, morre no campo de batalha e Teodomiro para a liderar o povo. Nesse meio tempo, os árabes atacam o Mosteiro da Virgem Dolosa e raptam Hermengarda. O Cavaleiro Negro e uns poucos guerreiros conseguem salvá-la quando o “amir” estava prestes a profaná-la.

Durante a fuga, Hermengarda, foi levada desmaiada às montanhas das Astúrias, onde Pelágio, seu irmão, está refugiado. Nesse momento, essas montanhas são o único e verdadeiro refúgio da independência Goda, uma vez que, depois de uma luta terrível contra os campos da Bética, que lhe pertenciam, continuariam em seu poder.

Em segurança, na gruta Covadonga, Hermengarda depara-se com Eurico e, enfim, pôde declarar seu amor. No entanto, Eurico revela a ela que o Presbítero de Cartéia e o Cavaleiro Negro são a mesma pessoa. Ao saber disso, Hermengarda perde a razão e Eurico, convicto e ciente das suas obrigações religiosas, parte para um combate suicida contra os árabes.

ANÁLISE CRÍTICA

O romance de 1844, que retrata o início do século VIII ou momento da invasão da Península pelos árabes é considerado, dentre os romances de Herculano, o que menos se prendeu ao rigor historicista, devido à utilização de uma maior liberdade imaginativa e talvez porque a época enfocada fosse pouco documentada.

A obra tem o caráter grandioso de uma “canção de gesta” e situa-se na passagem da epopéia para o romance histórico. A psicologia não podia ser analisada porque as personagens, sobretudo Eurico, desenham-se num módulo acima do humano, quase semi-deuses, como os heróis de Homero, e praticam feitos inverossímeis: o Cavaleiro Negro, na batalha de Criso, a passagem da Sália, o episódio da abadessa do Mosteiro. Vultos agigantados em matéria épica e que é preciso manter na bruma e no prestígio de grandes acontecimentos do passado longínquo.

O estilo da obra ergue-se ao tom solene do dizer profético, não só porque a ação era de calamidades, de castigos e de desfechos providencias como nível dos acontecimentos se situa a uma altura que excede o módulo vulgar do viver. Estilo portanto, sintético e embalado em onda rítmica, sem corte incisivo e minucioso da análise.

O conflito amoroso se dá a partir do amor desigual, contrariado pelo pai de Hermengarda, Fávila, Duque de Cantábria, possuidor de status social e bens materiais à verdadeira nobreza do outro, Eurico, que é poeta e mais puramente apaixonado. A sociedade, mais uma vez, desconhece o mérito autêntico e cria uma vítima que, daí em diante, saboreará na solidão o orgulho da sua própria tristeza. É este, no fundo, o sentido dos primeiros capítulos do livro:


Lá, no tumulto dos cortesões, onde o amor é cálculo de um sentimento grosseiro, terás achado quem te chame sua, quem te aperte entre os braços, quem tivesse para dar ao teu pai o preço do teu corpo e te comprasse como alfaia preciosa para serviço doméstico. O velho estará contente, porque trocou sua filha por ouro. ( p.35)


Com isso, Eurico vê-se “obrigado” a seguir, não sendo para um bem maior, o sacerdócio, isto é, reduz-se a despeito suicida, fruto e expressão do fracasso amoroso. Procura-se assim, uma espécie de morte mais elegante e sensacional, com o prestígio dos martírios ocultos que, por outro lado, se fazem discretamente adivinhar aos olhos dos homens.

De fato, Herculano vicia toda sua tese pela hipótese que lhe está subjacente: Eurico não abraça o sacerdócio e o celibato por vocação, mas à boa maneira romântica, como refúgio ou evasão para a sua frustração no casamento que projeta com Hermengarda. Daí constitua para ele, uma “amputação espiritual” e uma ”solidão irremediável”. Totalmente diferente da visão que a Igreja possui do sacerdócio e do celibato; uma visão sobrenaturalista, à luz da fé, sendo que, só aqueles a quem o dom da fé leva a ver com uma outra luz, e isso, só tem sentido para as pessoas possuidoras da verdadeira vocação a servir Deus a missão que lhes fora chamados.

A solidão de Eurico é paralela a do romancista Herculano, e ambas provocadas pela persuasão do homem superior e incompreendido. Um e outro confundem solidão com a vida interior e riqueza moral, assim, um e outro se suicidam, um na batalha, outro em Vale de Lobos. A mesma linha de individualismo estóico, falho da dulcificação do amor incansável. Nos conflitos, a ausência de perdão; nas crises, ausência de remédio.

O espaço físico é notável quando é descrito o enredo concentrado na Península Ibérica, a baía de Cartéia, a Ilha Verde, os vales, as margens de Crissus onde ocorrem as batalhas, etc. Há também aqueles espaços fechados como a caverna, o mosteiro, as tendas dos árabes, o presbítero entre outros.

Tratando-se do espaço social, devido aos conflitos civis e religiosos entre cristãos, godos e mulçumanos, era caracterizado por valores nobres como o patriotismo ao extremo, a busca da liberdade , o heroísmo, etc.

É importante esclarecer, na obra, alguns pontos em ralação ao tempo da narração e da narrativa. O primeiro refere-se ao século XIX em 1844, enquanto que o segundo refere-se à época da Idade Média, no início do século VIII, isso é perfeitamente comprovado pelas informações históricas e por datas citadas pelo autor no início de alguns capítulos.

Dentro da obra o tempo é cronológico e psicológico, sendo que aquele é predominante. Isso é perceptível nos momentos em que o narrador revela uma sucessão cronológica com advérbios de valor temporal e/ou marca datas em alguns capítulos: “Presbítero. Antemanhã. Oito dos idos de abril da era de 749.” (p 28). E a presença do tempo psicológico é em função das vivências subjetivas das personagens, como mostra o trecho a seguir:


Tal era eu quando me assentei sobre as fragas; e a minha alma via passar diante de si esta geração vaidosa e má, que se vê grande e forte, porque sem horror derrama em suas lutas civis o sangue de seus irmãos. (p 22)


Na obra, há a presença dos discursos direto e indireto livre, porém o discurso direto é predominante. O narrador faz uso de uma linguagem culta enriquecendo-a com o emprego de muitas figuras de linguagem. Dentre as quais, podemos perceber a comparação no seguinte trecho:


Hoje, a cobiça assentou-se no lugar da eqüidade: o juiz vende a consciência no mercado dos poderosos, como as mulheres de Babilônia vendiam a pudicícia nas praças públicas aos que passavam, diante da luz do dia. (p 30)


Os protagonistas são Eurico e Hermengarda, ambas personagens planas, pois não sofrem transformações drásticas e não surpreendem o leitor na diegese.

Quando Eurico, personagem-título, se evade, no sacerdócio seu caráter e sentimentos não mudam, ou seja, continua a ser o eterno apaixonado por Hermengarda, “A nova existência de Eurico tinha modificado, porém não destruído, o seu brilhante caráter.” (p. 24) A personagem não muda fisicamente, apenas se esconde atrás da estringe e da armadura.

Quando aparece como rude cavaleiro negro, sua intenção é defender a fé cristã. Apenas deixar fluir sua revolta com o mundo, isto é, não perde a sensibilidade, o pessimismo, amargura e a melancolia, que marcam a personagem do começo ao fim da narrativa, tratando-se das características do romantismo, pois é conseqüência da frustração e da impossibilidade de realização do amor, como “Era este o canto doloroso e tétrico, o qual lhe transudava o coração em noites não dormidas.”, e ”Por que te havia eu de amar, se tu nos chamas a realidade é tão triste?” (p. 39), e ainda, “Oh, quantas vezes esse pensamento repugnante me tem feito vaguear louco pelas montanhas, uivando como o lobo esfaimado e tentando despedaçar os rochedos com as mãos, donde me goteja o sangue!” (p. 45)

A visão que o narrador tem da personagem, Eurico, é de admiração e compaixão. Intensifica o sofrimento e destaca seu caráter de homem superior, poeta, piedoso, puro de alma, romântico e apaixonado, íntegro, patriota ao extremo e capaz de realizar grandes atos heróicos, o que faz o protagonista herói: “Eurico era uma destas almas ricas de sublime poesia a que o mundo deu o nome de imaginações desregradas, porque não é para o mundo entendê-las.” (p. 23) e “Mas Eurico era como um anjo tutelas dos amargurados. Nunca sua mão benéfica deixou de estender-se para p lugar onde a aflição se assentava” (p. 26)

Hermengarda é uma personificação da mulher do Romantismo, idealizada, pura, casta, ingênua, pálida e recatada. Totalmente submissa, a donzela frágil e indefesa não tem forças para lutar contra seu pai pelo seu amor.

O narrador vê na personagem o motivo que leva Eurico a se consagrar como herói ao salvá-la dos bárbaros e ultrapassar a ponte romana.

Não é tratada pelo narrador com tanta benevolência como Eurico, pois a chama de desdita e ingrata, mas deixa claro que também se compadece do seu sofrimento, ao intensificar o remorso e a vontade de morrer no solilóquio. Como percebemos nos seguintes fragmentos, “A ingratidão de Hermengarda, que parecia ceder em resistência à vontade de seu pai.” (p. 18), “_Sempre ele! Sempre esta visão de remorso!” (p. 166) e “...Bem longo e atroz tem sido meu martírio, porque ainda não achei no mundo alma com quem me fosse dado repartir o cálix do infortúnio... Se vivesses, seria tua, tua esposa, tua escrava...” (p. 166)

Como antagonista surge no enredo Fávila, homem ambicioso, orgulhoso e dominador. Já as demais personagens aparecem secundariamente na diegese: Pelágio, filho de Fávila, irmão de Hermengarda e amigo de Eurico. Liderou a resistência goda com persistência quando muitos já estavam desanimados e conquistou admiradores e seguidores fiéis. O apelo nacionalista é presente nas atitudes heróicas e corajosas desse grande líder godo. Teodomiro: duque de Córduba e amigo de Eurico, continua em combate enquanto os godos fogem. Roderico: Rei dos godos que morre na luta contra os árabes. Juliano: Conde de Septum e traidor do povo godo. Opas: Bispo de Híspalis e traidor do povo godo. Tárique e Obdulaziz: Líderes árabes. Antanagildo: Guerreiro godo. Muguite: Amir da cavalaria árabe, guerreiro que matou Eurico. Cremilda: Abadessa do mosteiro, sacrifica as virgens, pois prefere o martírio a ser violentada pelos árabes.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Eurico, o Presbítero, apesar de ser pertencente ao Romantismo, traz características diferenciadas das que estamos acostumadas nessa estética, tornando-a não muito envolvente, pelo fato de a mesma estar mais ligada ao contexto histórico do que à história amorosa dos protagonistas (Eurico e Hermengarda).

A trama amorosa, fundamental para a estética romântica, fica sem a devida atenção, servindo como pano de fundo na obra. O romance do casal é somente um pretexto com fins historicistas (caráter central do autor – bastante evidenciado na obra), sendo que é rico de fatos, de dados verossímeis em que a informação histórica é excedente tornando-se cansativa (isso acontece, também, porque a ação se desenvolve de forma muito lenta), enquanto a intriga novelesca passa despercebida entre os fatos consideráveis relevantes na obra.

Apesar de a narrativa em si não ser muito prazerosa e envolvente, como costumam ser os romances, não deixa de ser construtiva e enriquecedora, pois trabalha aspectos de uma cultura diferenciada e através dela conhecemos um pouco mais da história mundial, dos valores morais que cercam o ser humano e os conflitos dele decorrentes, bem como os valores à Pátria, aos costumes, à religião, dentre outros. Portanto, a obra é para quem, antes de tudo, tem afinidade com a história e pretende enriquecer seus conhecimentos.


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*Acadêmicos do Curso de Letras – UFPA – Campus de Bragança


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BRANCO, Camilo Castelo & HERCULANO, Alexandre. Coleção literatura luso-brasileira: Amor de perdição & Eurico, o presbítero. São Paulo: Dicopel.

HERCULANO, Alexandre. Eurico, o presbítero. Rio de Janeiro: Tecnoprint S. A., 2001

HERCULANO, Alexandre. Eurico, o presbítero. São Paulo: Martin Claret, 2003.

JUNIOR, Benjamin Abdala. Introdução à análise da narrativa. Editora Scipione.

MASSAUD, Moisés. A Literatura Portuguesa. São Paulo: Editora Cultrix, 32 edição, 2003.

PLATÃO E FIORIN. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Editora Ática, 1997.
SARAIVA, Antônio José & LOPES, Óscar. História da literatura Portuguesa. 16º Edição. Lisboa: Porto Editora.


  • Fontes Eletrônicas

  • http://letrasnolacerda.blogspot.com/2005/07/anlise-da-obra-eurico-o-pr_112122147882312880.html

  • http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/hercula3.htm


sábado, 16 de junho de 2007

O riso como correção dos vícios sociais: Características abordadas em obras de Gil Vicente e Ariano Suassuna

por Robson Melo
Jacirene Souza
Graça Damasceno



Gil Vicente, poeta humanista, em sua obra “O Auto da Barca do Inferno” denuncia as irregularidades institucionais e aos vícios sociais. É evidente a intenção do autor em mostrar de forma satírica e despojada os grandes vícios humanos. A maneira para isso, denota nas personagens (almas) que se apresentam no porto em busca do transporte para o outro lado, na visão católica e platônica de céu e inferno.
A peça tem finalidade tanto de entretenimento quanto de instruir no sentido moralizador. É escrita em versos, ou seja, é poética dotada de versos redondilhos (maior ou menor) de origem popular e medieval.
O Auto da Barca do Inferno acontece em um ancoradouro, na qual o barqueiro do céu e do inferno espera, à margem, os condenados e os merecedores da glória divina. Aqueles que morrem são julgados pelo diabo e pelo anjo, sendo só este, capaz de absolvê-los. No caso do Fidalgo (representante da nobreza) apresenta-se com uma roupagem exagerada, típica de seu status social e se o diabo vê nas condições de levá-lo para a sua barca por ele ter tido uma vida de pecados e regalias. Nota-se aí, a crítica que o autor faz à nobreza e aos defeitos humanos.
Também podemos analisar os vícios humanos na passagem do onzeneiro (agiota), o sapateiro, o frade – e sua amante – considerado um mau-caráter, a alcoviteira Brísida Vaz (cafetina e bruxa), o judeu, o corregedor (juiz), o procurador e o enforcado. Todos são condenados ao inferno por seus pecados. Somente o parvo, sem malícia e muito humilde junto aos cavaleiros – estes sequer foram acusados, pois morreram em nome de Jesus Cristo – é que são absolvidos.
O personagem de cunha importância na crítica de Gil é a figura do diabo, este conhece vigorosamente a arte de persuadir, é rápido no ataque, retruca, argumenta e adentra nas consciências humanas, denunciando os vícios e fraquezas.
Semelhante à obra escrita de Gil Vicente, temos “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, que chegou ao cinema na versão de Miguel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão. O filme foi realizado no sertão nordestino, fazendo um paralelo dos anos 30 à idade média. Os personagens possuem características iguais e/ou parecidas com os de Gil. É dotado de pecados , mas diferentes. No primeiro há um motivo e uma causa convincente para tais defeitos. Como no caso da personagem de Matheus Nachtergalle (João Grilo) – nordestino sabido que luta pela sobrevivência no sertão enganando a todos, ao lado de Chico, seu companheiro de estrada.
Há também a mulher adúltera, o bispo e o padre, o padeiro e outros, no qual depois de mortos são dirigidos para o juízo final, na presença de Jesus Cristo, o diabo e a Compadecida que intercede por todos a pedido de João Grilo, um dos julgados. A esses são dados uma chance de se redimir de seus erros (levados ao purgatório, de acordo com o catolicismo), pois pecavam, não porque gostavam, mas por conseqüência do destino. Severino de Aracajú, por exemplo, assassinou várias pessoas, porém foi perdoado em decorrência de sua trágica infância.
Ambas as obras dirigem-se, de maneira crítica, às mazelas sociais, seus vícios e costumes. Valem-se da comicidade, cheia de ironias e metáforas, e uma linguagem coloquial na obtenção de atingir todas as camadas sociais. O que difere uma obra da outra, além do tempo, é a justificativa para os pecados cometidos – falo da peça de Ariano Suassuna.
É interessante também observar que a obra de Gil, escrita séculos atrás, denuncia os mesmos ou semelhantes vícios sociais vividos na Idade Média. Isso nos leva a concluir que mudam-se os tempos e as vontades, mas os vícios continuam os mesmos.

robsonh_melo@yahoo.com.br

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Romântico e Realista


por Robson Melo

O que é ser romântico?

A pergunta nos levaria, de imediato, a responder fazendo referência ao amor exacerbado, a alguém apaixonado capaz de tudo pela pessoa amada, às histórias de novela com final feliz, enfim, como o romântico e o romantismo são popularmente definidos. Em partes, pode ser dada uma certa razão à essa definição, já que algumas características do romântico sob essa visão assemelham-se às características dos poetas românticos, principalmente no Ultra-romantismo, em que o poeta alcança sua plenitude.
O grande equívoco consiste no fato de essa definição ser relacionada, geralmente, ao amor, como se o romântico fosse necessariamente um eterno homem apaixonado, talvez confundido em conseqüência de o “ser romântico” ter a capacidade de sensibilizar. Eis aí a resposta para o nosso questionamento: essa capacidade de sensibilização decorre do individualismo, do egocentrismo, do sentimentalismo, etc, característico dos ultra-românticos. Nesse âmbito, a emoção é a base que sustenta todas as outras características. O romântico deixa-se levar por ela e entra em um mundo regido pelas regras da imaginação, fugindo da realidade e dando vazão aos sentimentos do seu “eu”.
Desse modo, dizer que ser romântico é ser um apaixonado, seria uma visão superficial, pois ele pode ser também um pessimista, um introspectivo, alguém que canta as belezas de sua terra, sem necessariamente demonstrar amor a uma pessoa.
Há muito o que se buscar para defini-lo, mas há como identificá-lo se procurá-lo no próprio ego.

O que é ser Realista?

Contrapondo-se ao primeiro questionamento – que busca desvendar o que seria um romântico –, a visão do eu-lírico agora vem de maneira objetiva. Ao contrário do que se encontra no Romantismo, a linguagem dos realistas nega o subjetivismo e trata da vida e do cotidiano sob uma visão exata.
Se “ser romântico” é dar vazão aos sentimentos se valendo da imaginação, sendo levado antes de tudo, pela emoção, ser realista é a negação do espiritual, que é irreal por estar destituído do sentido que realmente existe. O poeta realista busca uma visão racional do mundo, o “não-eu”, se preocupando, dessa forma, mais com o que está fora de si, um objeto perceptível e concreto. Ele vai ser um aliado da ciência, mas opõe-se às preocupações teológicas e metafísicas, que as considera subjetivas. Desse modo, o que se pode encontrar na poesia realista são aspectos que refletem a sociedade ou simplesmente o ser humano fielmente, seja no plano físico ou psicológico.
Portanto, ser realista é ser capaz de detectar, com o máximo de objetividade, o que nos cerca, identificando virtudes e defeitos, reconhecendo méritos e erros.

A importância da semiose na vida humana

A importância da semiose na vida humana

por Robson Melo

O processo do uso de uma coisa para representar outra, esteve sempre presente na vida humana desde os primórdios de sua existência. Apesar de não ser percebida e estudada nessa época, membros de civilizações antigas, a partir da necessidade de comunicação, usavam os mais diversos meios para transmitir mensagens e interagirem entre si, valendo-se do que denomina-se atualmente de Semiose.

Os signos e símbolos estão freqüentemente presentes na vida das pessoas, nas coisas ou situações mais simples do cotidiano e exercemos o processo da semiose sem termos ciência (ou até conhecimento) de que o fazemos.
Um exemplo simples para nós, paraenses, pode ser encontrado na bandeira vermelha que é posta nos locais de venda de açaí. Se a bandeira está exposta, logo o freguês conclui que tem açaí e vai lá comprar o produto. Nesse caso, a bandeira é um signo, pois convencionou-se que seria o sinal de que há açaí na venda e eis aí o processo de semiose – que para Peirce “se refere a qualquer tipo de ação do signo” – já que esta ação de expor a bandeira vermelha foi criada com o objetivo de comunicar.
A palavra, bem como a bandeira vermelha, também é arbitrária, sendo um signo convencional, sem qualquer relação de semelhança com o seu significado.
Inúmeros podem ser os exemplos de semiose no nosso cotidiano: o cartão vermelho no ato de expulsão em um jogo esportivo, roupa preta em sinal de luto, gesto com o polegar para diser que está tudo bem, placas de trânsito orientando os motoristas, etc. Todos sendo uma coisa usada em lugar de outra para comunicar, cabendo todos esses exemplos ao campo da Semiótica, que “é a ciência dos signos e dos processos significativos (semiose) na natureza e na cultura”. (NÖTH, 1995).

robsonh_melo@yahoo.com.br

Prazer e Educação: O Entretenimento a favor do Ensino

Por Robson Melo

Prazer e Educação: O Entretenimento a favor do Ensino


A escola é um remédio amargo que é preciso engolir hoje a fim de se assegurar para mais tarde – um mais tarde bastante indeterminado – as alegrias prometidas. (Snyders, 1988:8).

Esta citação é, nada mais do que o retrato da imagem que a maioria do alunado tem da escola, mas a escola dita tradicional, onde prazer e conhecimento caminham para lados opostos.
Em pleno século XXI, ainda é possível registrar relatos de alunos que vêem a escola como uma verdadeira “prisão”, um espaço onde se deve esquecer a vida lá fora e mergulhar fundo apenas no mundo das letras e dos números. Um lugar onde a educação tem um discurso autoritário e que acaba por se confundir com o discurso pedagógico. Em conseqüência, a imagem deturpada a ela atribuída resiste intensamente até aos dias atuais.
Isso leva-nos a concluir que os métodos tradicionais e nem um pouco atrativos – mesmo sendo eficazes – mantêm viva a dicotomização do espaço de brincar e espaço de aprender.
Levar para a sala de aula recursos – antes vistos apenas como entretenimento – para atrair a atenção e o interesse do aluno, seria uma alternativa. A TV, por exemplo, pode ser um desses recursos, já que “só existe uma maneira de ensinar: suscitando o mais profundo interesse do estudante e, ao mesmo tempo, uma atenção viva e constante”. (Montessori, s.d.:64).
Essa seria a solução para o problema, mas deve-se observar outra questão, a seleção do conteúdo dos vídeos, filmes, programas, etc, que serão utilizados como recursos didáticos. A preocupação se deve pelo fato de, mesmo na TV, o aluno gostar mais de certo programa do que de outro, assim como na escola gostar mais de uma aula do que de outra. Isso requer um conhecimento da realidade do estudante, uma realidade que além de ser empírica, é sonhada, idealizada, aspirada, desejada,..., reconhecendo assim, a dimensão simbólica da realidade desse estudante. A partir daí pode-se construir um discurso pedagógico sedutor, comparando-se com as estratégias de marketing realizado pelos meios de comunicação de massa.
A preocupação com essa seleção desses recursos televisivos para trabalhar em sala de aula, faz a diferença no que diz respeito à aceitação do alunado, já que existem também programas educativos que se aproximam das práticas de linguagem da escola. Como por exemplo: um vídeo que ensine/eduque de forma descontraída, que esses conhecimentos sejam repassados, mas como um pano de fundo de uma história que é contada nele, consegue educar de forma prazerosa. Desse modo, o discurso pedagógico não se torna autoritário como o da escola. E é justamente esta seleção feita pelo professor que pode dar à aula esse ambiente prazeroso. Ao professor cabe também a função de mediador, que estará sempre entre o aluno e o meio de comunicação.
Espera-se que a escola não seja sinônimo de prisão e não caminhe cada vez mais pra longe do prazer. Professores e alunos devem educar e aprender juntos, conservando e/ou transformando comportamentos e consciências.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Apresentação

Caro visitante,

Criei este blogger para postar meus trabalhos acadêmicos, resenhas, pesquisas e/ou simplesmente textos críticos.

Sou Robson Melo, faço faculdade de Letras na Universidade Federal
do Pará e ao longo desse tempo em que estive na Academia, senti necessidade de compartilhar meus estudos com pessoas da mesma área. Por isso estou, à partir de hoje, divulgando o que tenho produzido na Universidade, junto com meus companheiros de estudos, enquanto graduandos.
Espero dessa forma, estar contribuindo para que estudantes de Letras, ou simplesmente interessados, possam utilizar meus trabalhos em suas pesquisas na Internet. Uma maneira de me sentir mostrando resultados após quatro anos na Universidade Federal do Pará.

Obrigado!!!

Robson Melo - UFPA-Bragança-PA